San Blas – Roteiro de 3 dias de Viagem

Como contei na seção “Sobre”, depois de 10 anos de andanças pelo Brasil e o mundo, decidi que era hora de contribuir com os viajantes compartilhando experiências sobre lugares pelos quais estive, e estarei. Para estrear o blog e comemorar meu aniversário (hoje, 14/01) vou contar para vocês primeiramente sobre o que está mais fresquinho na memória, minha última viagem, em dezembro de 2016 para San Blas, no caribe panamenho. Passei 3 noites no arquipélago e posso dizer que foi uma experiência fantástica. É possível, sim, passar apenas um dia (há diversas empresas que fornecem o esquema bate e volta a partir da Cidade do Panamá), mas eu recomendo fortemente pelo menos 1 noite em uma das ilhas, porque caso contrário, você perderá grande parte da magia do lugar, que é exatamente curtir o pôr do sol, a noite e o amanhecer.

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Isla Perro Grande

SOBRE O DESTINO

San Blas, ou Kuna Yala (terra kuna, na língua nativa), ou ainda Guna Yala, é um arquipélago formado por cerca de 360 ilhas na costa norte do Panamá. É, na verdade, uma comarca indígena que se tornou “independente” em 1925, em cujo território o governo panamenho pouco intervém.

A primeira consequência prática disso é que você deverá estar com seu passaporte válido para cruzar a fronteira terrestre. A segunda consequência é que as hospedagens são bem simples, geralmente em cabanas de palhas com banheiros coletivos e água salobra.

A boa notícia é que nos últimos anos as hospedagens têm melhorado bastante, e hoje já é possível se hospedar em uma cabana de madeira, com banheiro privativo de água doce e energia elétrica, um “luxo” para a região.

 

QUANDO IR?

A temperatura em San Blas varia entre 23oC e 31oC ao longo do ano. A estação seca (dry season) vai de dezembro a abril enquanto que a estação chuvosa (rainy season) vai de maio até novembro. Em se tratando de um destino de praia, conclui-se que a melhor época para visitar as ilhas é entre dezembro e abril, afinal, no caribe todos vamos a procura de sol, não é mesmo?

Mas, atenção! É durante a estação seca que os ventos estão mais fortes, o que dificulta a navegação e prejudica a visibilidade da água. Se você, como eu, gosta de praticar snorkel, ou simplesmente de relaxar em um mar raso e calminho, a melhor época para visitar as ilhas é entre os meses de julho e agosto, período em que as chuvas são moderadas e os ventos amenos.

Mas a questão não se encerra aqui. Até recentemente, o Panamá era oficialmente considerado “fora da rota de furacões”, com possibilidade praticamente nula de um furacão estragar suas férias. Porém, em tempos de aquecimento global e mudanças climáticas, fatos recentes apontam que precisamos, sim, pelo menos considerar essa possibilidade.  No fim de novembro de 2016, o furacão Otto passou pelo Panamá causando destruição, desabastecimento e 4 vítimas fatais. Turistas tiveram que ser emergencialmente evacuados das ilhas San Blas, quando as visitas foram interrompidas entre os dias 22 e 25 de novembro de 2016. Já o furacão Matthew, que causou uma tragédia humanitária no Haiti entre o fim de setembro e início de outubro de 2016, com mais de 1000 vítimas fatais, chegou ao Panamá apenas na forma de tempestade tropical, causando fortes chuvas e ondas de 2 a 3 metros na província Kuna.

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Comunicado Oficial (em espanhol) suspendendo as atividades turísiticas nas ilhas por 4 dias entre 22 e e 25 de novembro de 2016

Minha visita de 3 dias ao arquipélago ocorreu no fim de dezembro, portanto, 1 mês após a passagem do Furacão Otto. O tempo alternou entre sol e nuvens e por 2 dias ventou bastante. Durante o trajeto de barco até a Ilha Wailydup, onde ficamos hospedado, o mar estava revolto, o que pode ser uma experiência complicada para algumas pessoas que não tem costume de navegar nessas condições. Nós levamos numa boa e procuramos aproveitar ao melhor estilo “splash mountain” da Disney. Inclusive rendeu boas gargalhadas, como você pode ver no vídeo abaixo:

 

Definitivamente, o mês para ser evitado é outubro, auge da estação chuvosa.

 

PLANEJANDO UMA VIAGEM A SAN BLAS

Basicamente, o planejamento para uma visita a San Blas envolve 3 etapas:

1) Viagem de carro desde a Cidade do Panamá (entre 3 e 4 horas)

2) Viagem de barco (10 a 40 minutos, dependendo da ilha escolhida)

3) Estadia (com ou sem pernoite)

Bom, aqui começa a parte não convencional. Muitas empresas oferecem um pacote incluindo esses três serviços, mas o serviço próprio destas empresas é a viagem de carro do Panamá até um dos portos de San Blas. A viagem de barco e a hospedagem é oferecida pelos índios kuna. Ou seja, você contrata o serviço de uma empresa, que vai lhe fornecer o traslado de carro e reservar a viagem de barco e a estadia com os kunas.

O contrário também ocorre, e foi como eu fiz, entrei em contato diretamente com um administrador da ilha Wailydup, e ele desenrolou para mim o motorista. Toda a negociação foi feita, em espanhol, pelo Whatsapp.

Um detalhe importantíssimo é que em San Blas uma reserva não garante 100% a estadia. Isso por que se um hóspede resolver “esticar” por um ou mais dias, os kuna vão preferir garantir essa hospedagem a apostar em um suposto novo cliente. Então, principalmente se você estiver em casal ou família, esteja preparado. Como as hospedagens de casal são mais limitadas, é possível acontecer de você acabar em um quarto coletivo, até que um quarto de casal esteja vago.

 

1) Viagem de carro desde a Cidade do Panamá (entre 3 e 4 horas)

A viagem de carro começa bem cedo, e o motorista passou no nosso hotel as 5:30 da manhã. A primeira parada foi em um supermercado para comprar água e mantimentos, e a segunda para o café da manhã, já em território indígena. A estrada da Cidade do Panamá até a província kuna está atualmente 100% pavimentada. Porém, a última parte da viagem (aproximadamente 1,5 horas) é sinuosa e com altos e baixos, cruzando uma selva. Esta situação pode fazer você enjoar, passar mal e vomitar, principalmente se o motorista dirigir em alta velocidade. Portanto, vá preparado com algum medicamente de sua confiança. Eu não tomei nada e senti somente um pouco de tontura, enquanto que a Karlla tomou Dramin e não teve maiores problemas, só algum enjoo.

O serviço custou 50 dólares, ida e volta, e como é um carro compartilhado, não é permitido (e nem caberia) levar mala grande. O que fizemos foi deixar as malas no Hotel no Panamá, inclusive não nos cobraram nada, e viajar somente com bagagem de mão.

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Estrada no território kuna yala (com emoção)

Como falei, existe uma fronteira, mas o processo de “imigração” geralmente é bem simples. O carro irá parar obrigatoriamente para que os militares chequem o passaporte e cobrem a taxa de entrada, que atualmente custa 22 dólares. Pode ser que o carro seja revistado, o que aconteceu conosco na volta, mas em 2 ou 3 minutos fomos liberados para seguir caminho.

 

2) Viagem de barco (10 a 40 minutos, dependendo da ilha escolhida)

Chegando no Porto de Dubin (há outros portos), fomos imediatamente conduzidos ao nosso barco. Eles acondicionam a bagagem em sacos, mas mesmo assim molhou um pouco. Então aconselho que você previamente proteja todos os eletrônicos, porque podem, sim, molhar. Ficamos totalmente ensopados. Uma estratégia que indico é já sair da cidade do Panamá com uma roupa leve por baixo, se possível sunga ou biquíni, e calçado que possa ser molhado.

Conforme relatei, o dia estava com muito vento e o mar estava com algumas ondas de pouco mais de 1 metro. Já a viagem de volta, 3 dias depois, foi supertranquila, não nos molhamos nem uma gota sequer.

 

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No caminho de ida passamos no Posto Ipiranga

O trajeto de barco custou 20 dólares, ida e volta.

 

3) Estadia (com ou sem pernoite)

A hospedagem “roots” é a consequência imediata de você estar em um arquipélago isolado. Para mim a falta de conforto é super natural, mas como diria meu filósofo e amigo Paulo Joba, “cada cabeça é um xampu”. Portanto, se para você o conforto é essencial, repense o destino, ou faço o passeio “bate e volta”.

Em San Blas a hospedagem é oferecida pelos índios kuna, no sistema all inclusive, mas limitado a uma porção. Geralmente, café da manhã, almoço e jantar são incluídos, e as bebidas são cobradas a parte. Algumas ilhas vendem cerveja, refrigerantes e snacks, mas você deve levar água potável e lanches.

As ilhas oferecem opções das mais variadas. A hospedagem mais simples custa por volta de 35 dólares por pessoa, em quarto compartilhado, banheiro coletivo e com energia limitada. É o caso das Cabanas Franklyn na Ilha Tubisenika. Porém, nos últimos anos tem surgido opções com mais conforto, com cabanas de madeira e banheiro privativo, por volta de 200 dólares a diária de casal. É o caso das Cabanas Coco Blanco e Narasgandup, e das Cabanas Wailydup, onde fiquei hospedado.

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Cabañas Wailydup, a direita é possível ver o restaurante

A ilha Wailydup não é das mais bonitas do arquipélago e a praia é bem pequena. Possui somente 6 cabanas, todas tem estrutura de madeira, ventilador e banheiro de água doce privativo, com descarga hidráulica. Elas são construídas em um esquema de palafitas, na margem da ilha, e ficam literalmente sobre o mar. Foi minha primeira experiência nesse tipo de hospedagem.

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Banheiro privativo com descarga e chuveiro de água doce. Acredite, nas ilhas isso é um banheiro 5 estrelas!!!

 

A grande vantagem é realmente o visual de estar no meio do mar, deitar na rede da varanda e aproveitar todo o contato com a natureza. Eu descia diretamente da cabana para fazer snorkel, com muita vida marinha por perto (estrelas do mar, barracudas, peixes pequenos e até uma manta arraia rondando o território). Em outro ponto da ilha, há um recife de corais bem interessante para explorar.

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Visual da nossa varanda. Sensacional!!!
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Coral Cérebro na Ilha Wailydup

 

Já como ponto negativo da hospedagem, o barulho do mar batendo no chão da cabana atrapalhou o sono na primeira noite. Na segunda noite liguei o ventilador que abafou o barulho do mar e o sono foi bem tranquilo, até que no meio da madrugada acabou a energia e a bateria começou a apitar, rsrsrs. A cabana tem painel de energia solar, mas não aguenta uma noite inteira de ventilador ligado!

Outro ponto negativo foram os mosquitos. No primeiro dia eles não apareceram, mas no segundo caiu uma chuvinha e fomos atacados, não teve repelente que desse jeito. Ficamos conversando com outros turistas sobre o que poderia ter causado esse ataque de mosquitos. Uma francesa que já tinha visitado a Nicarágua falou que não eram mosquitos, eram pulgas, e que a causa era que a madeira das cabanas não era tratada. Bom, eu não senti a presença de mosquitos na visita às outras ilhas, então talvez seja por isso mesmo.

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Pôr do Sol na Ilha Wailydup com vista da Ilha Savalo

Com relação a alimentação, a Ilha Wailydup tem um restaurante bem estruturado que recebe turistas para o almoço. As refeições eram saborosas e caprichavam na apresentação dos pratos. O café da manhã era composto de panqueca ou pão, ovos, queixo e presunto. Almoço e jantar peixe, frango ou frutos do mar com salada e arroz de coco, ou batata frita. No último dia a pesca foi boa e prepararam uma deliciosa lagosta. Eles também vendem cerveja gelada (2 dólares), refrigerantes e algumas bebidas quentes.

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Almoço típico – Peixe Frito, Lentilhas, Arroz e Salada

Mas uma vantagem da ilha que quero destacar é no quesito passeios. Eles fazem dentro do possível adaptações, o que achei fantástico. No primeiro dia de passeios, fomos até a Ilha Perro Chico e voltamos meio dia para o almoço. Já no segundo dia em que visitamos a Ilha Perro Grande, pedi para voltar só as 3 da tarde, e eles serviram o almoço nesse horário, o que ficou perfeito.

Bom, termino aqui minha estréia. Logo mais falarei sobre os passeios que fizemos para a Ilha Perro Chico e Ilha Perro Grande. Fiquem a vontade para comentar ou tirar dúvidas. Abraço.

Acompanhe nossas aventuras em tempo real pelo instagram khalilstromboli. Esse ano já passamos pela Tailândia, Islândia, Chile, Argentina e Portugal. E ainda vamos mergulhar em Fernando de Noronha, fazer safári na África do Sul e subir vulcões na Guatemala. Para 2018, já programamos caça a vulcões no Equador e uma visita à base do Monte Aconcágua, a maior montanha da América do Sul! 

15 comentários em “San Blas – Roteiro de 3 dias de Viagem

  1. Khalil, adorei o primeiro post! Muito sucesso com o Blog e um Feliz Aniversário! Que seu ano seja de muitas viagens para relatar aqui! Ah… e estou esperando o post sobre uma vigem completa pelo Chile! 😊😊😊

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  2. Khalil, o seu blog ficou ótimo! Tem muita informação relevante sobre os locais visitados e as fotos e vídeos ficaram maravilhosos! Parabéns pela sua iniciativa em dividir suas aventuras conosco! Abração!

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    1. Sim, Oscar, acho que a América Central, principalmente a continental, tem pouca informação, e um destino como San Blas, que é fantástico, muitos ainda tem receio de encarar. Eu sou suspeito porque ainda esse ano estou retornado a Guatemala e também sou louco pra conhecer a Costa Rica.

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    1. Oi Rosane, eu procurei aqui mas como já troquei de celular umas 3 vezes depois dessa viagem, infelizmente não encontrei nos contatos. Mas na internet achei esse numero de contato +507 6992-2271, só não tenho certeza se é o zap deles.

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