Minha admiração por vulcões surgiu lá na infância. Meu pai tinha um livro “Maravilhas da Natureza – Seleções do Readers Digest”, e havia uma foto de um vulcão que me encantava demais. Eu ainda criança adorava abrir o livro, olhar a foto e imaginar como seria ver um gigante daqueles de perto.
Esse sonho de criança eu tive a bênção de realizar duas décadas depois, em 2008, no Chile, quando vi pela primeira vez um vulcão de perto, o magnífico Villarrica. Mas foi só alguns anos depois, em 2014, que eu descobri algo que mudaria para sempre minha vida. Que há vulcões no mundo, como o Stromboli, na Itália, que tem atividade persistente.
Mas o que seria atividade persistente? No mundo há dezenas de vulcões que estão em constante atividade, ou seja, todos os dias é possível observar fenômenos como expulsão de gases, explosões e até mesmo erupções. Talvez o exemplo mais famoso de um vulcão persistente é o Kilauea, que fica no Havaí, e que desde a década de 80 tem estado sempre em atividade.
O “Volcán de Fuego” é mais um desses vulcões que atualmente é classificado como persistente. Ele está localizado na Guatemala, na América Central, próximo a cidade colonial Antigua Guatemala, e nos últimos anos tem seguido um certo “padrão”. São dezenas de explosões, com intensidades das mais variadas, todos os dias. E aproximadamente 1 vez por mês, ele “entra em erupção” de maneira intensa, com o escorrimento de fluxo de lava por suas encostas, durante algumas horas, ou até mesmo por mais de 1 dia.
Mas há um detalhe que faz esse colosso ainda mais especial. Fuego fica vizinho ao Vulcão Acatenango, que está inativo. Ou seja, subindo o Acatenango, você fica a apenas poucas centenas de metros da cratera do Fuego, podendo então observar um dos maiores espetáculos da terra, de “camarote”!

Mas essa é uma aventura desgastante, envolve enfrentar a subida de uma montanha desde os 2200 metros até quase 4.000 metros, uma jornada extenuante que dura de 6 a 7 horas. Além de todo o esforço, falta oxigênio, principalmente para quem vive ao nível do mar. Esse desafio eu já cumpri, com muito esforço, 2 vezes, em março de 2016 e em dezembro de 2017.
Diversas empresas em Antigua Guatemala oferecem o “tour”, sempre com o serviço de guia e refeições incluído. O que difere entre as empresas, além do nível de profissionalismo, basicamente, é se as barracas já estão montadas na montanha ou se você terá que levar junto. Nesse caso, também há a possibilidade de se contratar um “porter”, que é um ajudante que irá levar sua bagagem, incluindo a barraca.

No dia da subida, uma van lhe busca em suas hospedagem, por volta de 7 horas da manhã, partindo em seguida para uma viagem de aproximadamente 1 hora até as encostas do Vulcão Acatenango. Lá, o grupo é reunido, as instruções são apresentadas, e começa a subida.

O trajeto leva de 6 a 7 horas, com algumas paradas rápidas para descanso, e uma parada de 1 hora para o almoço. É uma subida extenuante, que vai revelando aos poucos os diversos ecossistemas que existem na montanha. Além de todo o desgaste pela subida em sim, tem o problema da altitude. Eu, por exemplo, vivo ao nível do mar. A cidade de Antigua Guatemala fica a 1.500 metros, e em algumas você já está a quase 4.000. De todas as subidas que fiz, essa sem dúvida foi a mais desafiadora.

Mas a recompensa é total. Ao chegar próximo ao pico do Acatenango, ficam os acampamentos, e eis que surge o Vulcão Fuego, bem a nossa frente. Logo começam as explosões, e a sensação de estar tão próximo de um vulcão em plena atividade é, com o perdão do clichê, indescritível.

Logo chega o pôr do sol, um festival de tons e cores. E quando surge a noite, podemos apreciar diversas erupções, um espetáculo da natureza, um privilégio que nos faz refletir sobre a maravilha da natureza, manifestação do poder divino.
Enquanto a noite passa, o vulcão tem várias erupções, a maioria de intensidade pequena, como essa do vídeo acima, mas algumas médias e até de intensidade grande. É bem difícil filmar ou fotografar, pois além de estar tudo escuro, o vento é forte e a temperatura inferior a 5 graus. Nessa hora você já está bem cansado e adormece. Mas de vem em quando você é acordado pelo barulho das explosões, um rugido impressionante. Uma sensação que não vou me atrever a tentar explicar, pois chega a ser transcedental.


Mas ainda resta outro desafio. O trecho final, que leva até a cratera do Acatenango, começa as 5 da manhã e é a parte mais difícil e perigosa. O terreno é bem inclinado, com areia vulcânica e muitas pedras soltas, e algumas vezes você se dá conta que está a beira de um precipício. Lá em cima, temos um outro ângulo de visão, e a sensação é que estamos praticamente “colados” no Fuego. É de arrepiar.

Depois, é hora de voltar, e fazer todo o trajeto de descida, que leva de 4 a 5 horas até o ponto onde as vans estão estacionadas. 1 hora mais até Antigua, finalizando a aventura por volta de 2 horas da tarde, com a certeza de que você viveu um dos maiores espetáculos de nosso planeta.
Estudo e acompanho vulcões há alguns anos, e posso afirmar sem sombra de dúvida, que se você mora nas Américas, o “Vulcão de Fuego” é sua maior chance de assistir a um desses gigantes em plena atividade. De quebra, você ainda vai conhecer a deliciosa Antigua Guatemala. Mas esse é um assunto para um outro post. Forte abraço!