Mount Taranaki. Dormindo na encosta de um dos vulcões mais perfeitos do mundo.

Escolhido como cenário do blockbuster “The Last Samurai”, o Mount Taranaki é considerado um dos vulcões mais perfeitos do mundo. Mas você pode pensar: o que isso realmente significa? A resposta é simples. Assim como o famoso Mount Fuji, no Japão, o Mount Taranaki, com seus 2518 metros de altura, tem uma forma bastante semelhante a um cone simétrico. Coberto totalmente pela neve nos meses mais frios, ele é magnífico, e caminhar por suas encostas é um sonho de consumo para qualquer aficionado por esses gigantes da natureza.

IMG_0455
Mount Taranaki (2518 m).

Todos os dias aventureiros de todas as partes do mundo tentam alcançar o topo do vulcão, em uma caminhada extenuante que dura em média 10 horas e cujo desnível total é de 3.2 km de altura. Mas além de fascinante, essa montanha é também mortal. 83 pessoas faleceram em suas encostas desde que se iniciou a contagem dos registros, em 1891.

Avaliando riscos e benefícios, decidi não tentar a subida até o fim. Mas essa frustração sumiu imediatamente quando descobri a existência de uma hospedagem a 2.000 metros onde eu poderia passar a noite aos pés do Taranaki, e assim curtir o entardecer, o pôr do sol e o céu estrelado. O Syme Hut é uma minúscula cabana com uma beliche e apenas 10 colchões, que foi erguida em um pico secundário chamado Fanthams Peak. A diária custa 5 NZD (New Zealand Dollar) e não há como reservar, apenas os que chegam primeiro tem sua vaga garantida.

IMG_9611
O início da trilha, rumo ao Fanthams Peak, onde fica a cabana conhecida como Syme Hut

Nossa aventura começa no Dawson Falls Visitor Center, a 902 metros de altura, onde os tickets para dormir no Syme Hut são vendidos, a poucos passos do ínicio da trilha. No começo, o percurso é feito em meio a uma mata fechada, com sombra. Logo depois caminhamos em meio a mata aberta, onde já é possível observar a montanha.

IMG_9656
A primeira vista do Mount Taranaki mostra que há um longo caminho a seguir.
IMG_9699.JPG
O Hooker Shelter é o único abrigo em toda a trilha.

Pouco tempo depois cheguei ao Hooker Shelter (1140 m), um abrigo onde pude descansar um pouco na sombra. Olhando para o mapa, pela distância horizontal percorrida parecia que já estava quase na metade da subida e tive a sensação de que seria até tranquilo. Ledo engano. Logo começaria a pior parte. Um trecho de percurso bem mais inclinado, totalmente exposto, sem vegetação, sem trilha. Uma subida em uma encosta vulcânica formada por pedra e areia, o que chamamos de “scoria”. É preciso ter muita atenção e paciência, escolhendo cuidadosamente a direção do próximo passo. Qualquer vacilo pode levar a uma contusão ou até mesmo a uma queda ladeira abaixo.

IMG_9725
Frente: esse é o cenário por algumas centenas de metros. Pedras soltas dos mais variados tamanhos
IMG_9728
Verso: é preciso muita concentração e foco, se lembrar a todo momento que você está em uma ladeira sem nenhuma proteção.

Foram 2 horas de subida nessa encosta de pedras. Perto do final, cada passo vira um pequeno desafio. Confesso que nunca havia enfrentado um trecho difícil como esse por tanto tempo. Realmente foi desafiador e no final cada passo se tornava uma pequena conquista. Nunca duvidei que chegaria até o fim, mas eu precisava ainda chegar a tempo de conseguir uma vaga no Syme Hut. Mas logo a recompensaria chegaria. O primeiro visual literalmente aos pés do Taranaki é de arrepiar.

IMG_9785
O grande momento. Finalmente frente a frente com o Mount Taranaki.
IMG_9807
Chegando no Syme Hut.

Uma pequena caminhada quase plana me levou até o primeiro visual do Syme Hut, e a tensão foi embora quando cheguei e vi que ainda havia 4 colchões livres. Ufa! Eu teria meu lugar quentinho para passar a noite. Os momentos a seguir foram de puro êxtase. Uma caminhada pelo Fanthams Peak, diversos ângulos do Mount Taranaki e um entardecer de beleza indescritível.

IMG_9957
No topo do Fanthams Peak, com o Syme Hut e o Mount Taranaki ao fundo.
IMG_0107
Meu cantinho no Syme Hut.

A medida que a noite ia se aproximando, o vento e o frio aumentavam. A temperatura já beirava os 5 graus e eu tive que vestir tudo que trouxe para aguentar o frio lá fora, pois não podia nem pensar em perder o pôr do sol. E que espetáculo que foi. O sol se pôs acima das nuvens, num festival de tons, raios e cores. Uma das grandes emoções de uma vida.

IMG_0108
Agasalho máximo e um merlot neo zelandês para curtir o pôr do sol.
IMG_0209
Pôr do sol visto do Fanthams Peak.

Um céu estrelado ainda brindaria aquela noite. Fiquei lá fora até por volta de 21 horas, estava muito frio. Embora estivesse quase congelando do lado de fora, dentro da cabana o saco de dormir funcionou muito bem e a temperatura estava bem confortável. E fui tentar dormir. Tentar. Porque naquela hora muitas emoções passavam pela cabeça pelo sonho que acabara de ser realizado e eu ainda demorei bastante a pegar no sono.

Acordei por volta de 7 horas e ainda dei uma passeada pelo Fanthams Peak antes de começar a descer. Imaginando se um dia vou ter a chance de voltar e tentar subir até a cratera.

IMG_0278
Se despedindo do Syme Hut.
IMG_0417
Hora de encarar essa descida.

O vídeo a seguir eu fiz durante a descida para tentar dar a vocês uma idéia da dificuldade de caminhar sobre uma ladeira tão instável. Aqui uma bota específica para trekking é essencial e faz toda a diferença. A superfície é totalmente irregular, as vezes um passo afunda mais de 10 centímetros. Há pedras grandes que estão soltas enquanto outras não. É quase impossível não levar pelo menos um tombo e nessa hora também é necessário “saber cair”. Um abraço a todos e até a próxima.

2 comentários em “Mount Taranaki. Dormindo na encosta de um dos vulcões mais perfeitos do mundo.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s