Acesse no Instagram a hashtag #stromboli. Vamos fazer juntos um teste rápido? Tenho certeza que entre os primeiros posts haverá fotos espetaculares de um vulcão em erupção, com lava escorrendo e colunas de cinzas que atingem centenas de metros pelo céu. Mas rolando o feed você também ficará curioso pelas imagens de uma bela ilha, com um lindo mar azul, praias de areia negra e famílias curtindo férias. E continuando na hashtag, garanto que ficará com água na boca ao ver fotos de um delicioso salgado tipicamente italiano com queijo mussarela, salame e molho de tomate!
Mas vamos deixar a gastronomia um pouco de lado e esquecer por uns instantes o terceiro Stromboli, o salgado italiano. Vamos focar nos dois primeiros, o vulcão Stromboli e a ilha de Stromboli. Tem um detalhe importantíssimo nessa história: eles são exatamente a mesma coisa, vulcão e ilha, ilha e vulcão.

Essa foto eu tirei em agosto de 2019, no barco, momentos antes de chegar a Stromboli. Na verdade, o que vemos são apenas os 926 metros do vulcão (aproximadamente 1/4 de altura) que estão sobre o mar. Outros 2700 metros estão submersos. No canto inferior esquerdo da foto, os pontos brancos mostram a parte mais habitada da ilha, com casas e hotéis. E acima, uma pequena cortina de fumaça anuncia que esse é um vulcão em plena atividade.
Deve causar espanto imaginar que centenas de pessoas moram nas encostas de um vulcão ativo. Imagens e vídeos de erupções recentes talvez façam você pensar que a simples ideia de pisar na ilha é perigosa ou uma aventura extremamente radical.

Mas a realidade é bem diferente. Uma vista aérea de Stromboli mostra que as casas estão construídas em duas extremidades da ilha. Na extremidade direita, observamos o porto principal e seus arredores, onde se concentra a maior parte de casas e hotéis. Na extremidade esquerda, temos a pequena vila de Ginostra, com apenas algumas dezenas de casas. Entre essas extremidades, mais ou menos ao noroeste da ilha, e logo abaixo da cratera, está localizada a área que eu marquei entre as linhas amarelas, conhecida como Sciara del Fuoco.
É exatamente pela Sciara del Fuoco que as rochas expelidas pelo vulcão caem sobre o mar. A lava também escorre por essa região, o que fez a ilha ser batizada pelos navegadores como o “Farol do Mediterrâneo”. Quando o fluxo de lava está ativo, dezenas de barcos levam os turistas para observar o fenômeno durante a noite. Um espetáculo da natureza.

Esse comportamento “estável” das explosões, que não afetam as áreas próximas ao porto, permite que ali a vida siga “tranquilamente”. Na verdade, a ilha, que junto com Vulcano, Lipari, Salina, Panarea, Filicudi e Alicudi forma as Ilhas Eólias (Aeolian Islands) é destino de veraneio dos italianos. No verão a ocupação hoteleira chega a 100%. Centenas de veleiros e iates atracam na ilha, famílias inteiras em busca de dias ensolarados.

Sendo um vulcão em formato de cone, é preciso ter fôlego para caminhar por Stromboli, sempre subindo ou descendo ladeiras. As ruas são estreitas e não é permitida a utilização de carros de passeio. Somente carros de golf e alguns micro veículos de moradores tem permissão para circular. Também, salvo raríssimas exceções, não há iluminação nas ruas, sendo indispensável o uso de uma lanterna para caminhar a noite. Movida quase que exclusivamente pela pesca e pelo turismo, aqui a vida passa devagar, ao melhor estilo dolce far niente. As casinhas brancas espalhadas pela ilha tornam inevitável a lembrança da ilha grega de Santorini.

Stromboli, como bom representante da cultura italiana, não poderia deixar de ter uma praça central com uma igreja católica. Curiosamente, quando estive pela primeira vez na ilha, em 2015, pude presenciar um casamento. Os noivos desfilaram pela praça, compartilhando aquele momento tão especial com os turistas que, como eu, deveriam estar pensando como seria a infância, o namoro e a vida de casado em uma ilha tão pequena e isolada.

Esse é apenas o primeiro de uma série de posts que pretendo fazer sobre Stromboli. A intenção por enquanto foi dar um ideia geral sobre a ilha, para depois mostrar como chegar lá, quando ir, e é claro, os passeios mais “radicais”.
Aproveito para terminar com uma curiosidade. A superstar Ingrid Bergman estrelou em 1950 o filme Stromboli – Terra di Dio . Considerado um clássico do neorrealismo italiano, narra a saga de Karen, uma lituana que busca na ilha uma nova vida, longe dos traumas da 2a guerra.